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Um ano sem Padre HernaniParece que foi ontem, já se passaram 12 meses. Exatamente no dia 02 de novembro de 2007 – Dia de Finados – por volta das 17h30min., faleceu o querido amigo Padre Hernani José Ferreira, um autêntico defensor da vida, mas que foi vencido pelas enfermidades que o acometeram.Quando morreu no ano passado, Padre Hernani tinha 54 anos e tinha acabado de concluir o que caracterizo como um de seus principais projetos de vida: a reforma e ampliação da Matriz de Nossa Senhora Auxiliadora. Para concretizar a obra ele não mediu esforços. Realizou diversos eventos como bingos, almoços e leilões beneficentes. Recebeu muitas doações de amigos, porém, Padre Hernani fazia questão de destacar as contribuições que eram feitas mensalmente através de carnês. Ele dizia que muitas pessoas tiravam do pouco que tinham para ajudar a concluir a obra na “casa de Nossa Senhora” porque “foi Ela quem tudo fez” como gostava de dizer. Aliás, eu ainda era criança e me lembro do início da construção da Matriz de Nossa Senhora Auxiliadora, graças à determinação do Padre Hernani. Pouco depois de receber a visita do Bispo Dom José Belvino do Nascimento para abençoar e reabrir a igreja, Padre Hernani, teve novos problemas de saúde e passou cerca de um mês e meio internado em Belo Horizonte e não resistiu ao tratamento.Lembro-me bem do momento em que a notícia chegou aos estúdios da rádio Santa Cruz. Estava no ar apresentando o programa Festa Sertaneja e como era feriado o movimento na rádio era pequeno.Estávamos eu, o Padre Gabriel e o Emerson Barbosa. Como convivíamos diariamente com Padre Hernani com toda aquela alegria que lhe era peculiar, recebemos um duro golpe. Apesar de sabermos da gravidade de seu quadro clínico, havia grande esperança em sua recuperação, já que dias antes ele havia apresentado uma melhora animadora que não foi suficiente.Com a confirmação da morte do amigo Hernani, Padre Gabriel deu a notícia aos ouvintes e em seguida deixei a rádio e fui para a igreja Nossa Senhora Auxiliadora onde permaneci até alta madrugada do dia 03 de novembro ouvindo as pessoas que foram esperar a chegada do corpo de Padre Hernani, o que aconteceu por volta da uma hora.Confesso que fiz a cobertura jornalística, levando as informações através do rádio, mas como disse ao Padre Gabriel na oportunidade, foi um trabalho que jamais gostaria de ter feito. Foi muito doloroso.Quando o corpo chegou, com o microfone sem fio, fui até a porta principal da Matriz de Nossa Senhora Auxiliadora para relatar os fatos e depois fui á frente daqueles que o carregavam até as proximidades do altar, onde seria velado. Naquele instante me pareceu que o corredor da igreja era interminável. A dor aumentou quando abriram o caixão. Esta cena não sai da minha mente. Repito: foi um trabalho que jamais gostaria de ter feito.Por outro lado, poderia contar aqui inúmeras passagens alegres que passei ao lado de Padre Hernani. Para começar, todos os dias quando ele terminava de apresentar a Hora do Ângelus, na Santa Cruz, ele se dirigia até a sala onde eu estava e já entrava gritando É FESTA!!! Numa alusão ao bordão que eu utilizava nas transmissões esportivas, as quais ele não perdia nenhuma.Inclusive, foi com a gente por vezes ao Mineirão e eu fazia questão que ele ficasse comigo na cabine de transmissão. Recordo-me que numa dessas passagens ele me procurou e perguntou se havia possibilidade de ir com a gente para assistir ao jogo Cruzeiro – seu time de coração – e Paulista de Jundiaí, pela semi-final da Copa do Brasil de 2005. Respondi que sim.No dia e hora marcados – 1º de Junho de 2005 – passamos na casa dele e ao nos ver veio correndo feliz como uma criança que acaba de ganhar um presente, tudo porque iria com a gente para o Mineirão torcer pelo seu time de coração.Ao entrar no carro, abriu uma bolsa na qual tinha água, refrigerante e salgados para a “viagem”, dizendo que a “matula” havia sido preparada por sua irmã Nenéia. Conversamos e brincamos bastante durante a viagem e como chegamos mais cedo ao Mineirão, o Emerson e os demais membros da equipe do Futebol Festa da Santa Cruz, subiram para a cabine para preparar os equipamentos e eu fiquei do lado de fora do estádio com Padre Hernani, pois os portões não haviam sido abertos ainda e ele não poderia entrar conosco pelo hal principal.Neste meio tempo, ele aproveitou para abordar os ambulantes e comprou pelo menos uns radinhos com fone de ouvido para trazer para as irmãs e para ele. Já do lado de dentro do Mineirão, na cabine, tínhamos outro Padre Hernani.Para mim e demais membros da equipe, era apenas mais uma partida. Para ele era uma decisão. No jogo de ida, disputado no dia 25 de maio de 2005, em Jundiaí, o Cruzeiro havia perdido para o Paulista por 3x1 e precisava vencer por 2x0 para garantir a vaga na final. Ao começar a partida, Padre Hernani estava bastante agitado e torcendo como nunca. Parece que daria tudo certo. Logo aos 7 minutos do primeiro tempo fiz a Festa com o primeiro gol do Cruzeiro marcado pelo atacante Kelly. Ainda no primeiro tempo narrei outros dois gols celestes marcados por Fred aos 16 e 36 minutos.No intervalo, Padre Hernani parecia um menino de tanta felicidade, acabou até vestindo uma blusa de frio do Emerson que ficou pra lá de apertada e ele nem ligava. Era só festa. Mas a alegria durou pouco.Logo no primeiro minuto do segundo tempo em cobrança de falta, Christian, diminuiu para o Paulista e aos 4 minutos num lance que pareceu um replay do anterior fez o mesmo Christian segundo gol. Foi o bastante para tirar o Cruzeiro da final e Padre Hernani do sério. Recordo que ele até entornou na cabine um copo de água ou refrigerante que ele bebia não me lembro ao certo o que era.Dali pra frente até o final do jogo, na viagem de volta e nos dias seguintes foi só lamento. E parece que ele estava certo de não se contentar, porque Levir Culpi, técnico do Cruzeiro disse após o jogo: “Estávamos no paraíso e acabamos no inferno”, claro, isso na gíria do futebol, numa alusão que o Cruzeiro teve a classificação para a final nas mãos e acabou perdendo.Teria tantas outras histórias, mas fico por aqui com a saudade do inesquecível Padre Hernani. Desde a última sexta-feira estou em Aparecida-SP, com a V Romaria da Santa Cruz para o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, mas sei que neste fim de semana, os membros da paróquia Nossa Senhora Auxiliadora prepararam inúmeras homenagens ao ex-pároco.Uma delas é o lançamento do projeto de construção de uma capela ao lado da Matriz, onde serão depositados os restos mortais de Padre Hernani. A capela será uma mini-réplica da Matriz de Nossa Senhora Auxiliadora, nos moldes da existente em Leandro Ferreira dedicada ao Santo Padre Libério.Para finalizar, digo que Padre Hernani comemorou em Pará de Minas seus 25 anos de sacerdócio e o que muita gente não sabe é que ele abriu mão de ser ordenado em pleno estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, pelo saudoso Papa João Paulo II. Ele abriu mão, justamente para receber o Sacramento perto de seus familiares e amigos na cidade de Mar de Espanha-MG, onde ele mandou convite para cada uma das casas do município.Padre Hernani, nasceu na cidade mineira de Mar de Espanha, dia 13 de dezembro de 1952 – Dia de Santa Luzia, aliás ele ia para a cidade que tem o nome da santa a cada aniversário – e faleceu no hospital Felício Rocho em Belo Horizonte, dia 02 de novembro de 2007. Padre Hernani foi sepultado no cemitério Santo Antônio em Pará de Minas. Encerro utilizando um provérbio irlandês que ele dizia todos os dias ao encerrar a Hora do Ângelus: “Não diga a Deus que você tem um grande problema, diga ao problema que você tem um grande Deus”. Que Ele o tenha em sua glória!

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